Acordo entre Irã e potências tem novo impasse - Negociador iraniano afirma que direito de seu país de produzir urânio enriquecido é "inegociável."
INTERNACIONAL
Acordo entre Irã e potências tem
novo impasse
Negociador iraniano afirma que
direito de seu país de produzir urânio enriquecido é "inegociável."
Andrei Netto
Correspondente/Paris
O governo do Irã informou ontem, em
Genebra, que não pretende suspender o enriquecimento de urânio em troca de um acordo internacional
que reduza as sanções econômicas contra seu país. O anúncio foi feito pelo
vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, e ampliou as dúvidas
sobre a chance de um entendimento em torno do programa nuclear iraniano.
As negociações reúnem
representantes diplomáticos do Irã e do P5+1, o grupo formado por Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia,
China e Alemanha. O segundo dia do encontro, ontem, ressaltou uma divergência
que pode ser decisiva para o acordo. Isso porque o regime iraniano se recusa a
fechar suas usinas de produção de enriquecimento de urânio a 20% - a base
crítica para avançar a 90% de enriquecimento, nível necessário para a
construção da bomba atômica. O fechamento é uma exigência do governo da França
para qualquer tipo de acordo.
"O princípio do enriquecimento
não é negociável", afirmou Araghchi. Mas o negociador deu sinais de que o
entendimento com os membros do P5+1 é possível. "Nós podemos discutir o
volume, o nível e o local", ressaltou, com tom realista. "Nós estamos
na parte mais delicada da negociação. Cada palavra tem sua importância. Nós
procuramos nos colocar de acordo sobre uma formulação aceitável para as duas
partes", declarou o diplomata iraniano.
A firmeza sobre a continuidade do
programa de enriquecimento de urânio foi demonstrada um dia depois do pronunciamento
do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, exortando seus negociadores a não
cederem demais ao P5+1. "Eu insisto sobre a consolidação dos direitos
nucleares do Irã", afirmou o líder religioso, em encontro na quarta-feira,
a uma platéia de militantes islamistas em Teerã.
Mesmo com o limite traçado pelo
Irã, Michael Mann, porta-voz da chefe da diplomacia da União Européia,
Catherine Ashton, afirmou que as negociações estão evoluindo, apesar das
evidências de impasse.
"Foi um dia de negociações
intensas, substanciais e detalhadas, em uma boa atmosfera. Vamos continuar nessa sexta-feira", disse
Mann, sem, no entanto, garantir que um acordo seja possível.
Um indício de que as negociações
não estão avançadas é o de que os ministros das Relações Exteriores dos seis
países ainda não chegaram a Genebra, segundo Araghchi. "Enquanto a
perspectiva de um acordo não existir,
não creio que os ministros virão", disse ele à agência iraniana Mehr.
Em paralelo ao esforço diplomático
em Genebra, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, em visita à
Rússia, voltou a garantir que não permitirá que o Irã chegue à fabricação de bombas
atômicas - com ou sem acordo entre o país e as grandes potências. "Eu
prometo que o Irã não terá a arma nuclear", reafirmou. O premiê criticou a
postura de Khamenei, que na quarta-feira afirmou que Israel "está fadada a
desaparecer". "O líder supremo iraniano, Khamenei, disse "Morte
à América, morte a Israel. Ele disse que
os judeus não são seres humanos. Tal Irã não deve ter a arma nuclear", argumentou.
Em tom de conciliação, o presidente
da Rússia, Vladimir Putin, disse no mesmo encontro esperar que uma solução "mutuamente aceitável
seja encontrada em um futuro próximo".
Fonte: Folha de SP / Blog do Capitão Fernando - Internacional
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